Mostrando postagens com marcador Ecologia Geral. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Ecologia Geral. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, junho 17, 2010

Via Natureza: Ecologia Geral, Ecologia Social e Política, Ambientalismo e Viver Sustentável - Vamos procurar compreender?


Dois amigos me perguntaram sobre a diferença entre ecologia e meio ambiente. Percebi que essa é uma questão que confunde a todos nós, apesar de ser um assunto já bastante discutido no mundo todo. Respondo com alguns artigos encontrados. Um deles em forma de aula - aula para o segundo grau; um outro, do pesquisador, economista e político francês Alain Lipietz¹ abordando a ecologia de um modo geral, assim como a ecologia social e política; ele também nos fala, com uma linguagem bem compreensível, sobre o desenvolvimento sustentável. Como o artigo está em francês e inglês, transcrevo uma tradução do site ecologia social - transcrito, na íntegra, na nota de rodapé 'Mais informações'. Transcrevo também o exemplo de como os alunos de uma pequena escola podem trabalhar e vivenciar a ecologia no meio ambiente em que vivem. Exemplo que deveria ser seguido por todos nós. Coloco, no final, alguns endereços que tentam esclarecer essas nossas dúvidas de uma maneira mais prática.
.......
...1- "O que é ecologia?  
...
    Existe uma grande quantidade de definições para a ciência da ecologia. Principalmente, na tentativa de estabelecer os limites desta ciência em relação as demais ciências biológicas. Costuma-se dizer que a ecologia é uma  ciência de síntese, pois agrega informações de diferentes ramos do conhecimento. 
    A definição formal mais comumente encontrada em livros e apostilas de segundo grau é a seguinte: 
    "Ecologia é a ciência que estuda as interações entre as espécies e destas com o meio ambiente". 
    Esta definição conduz a uma ideia de que a ecologia seria algo próximo a história natural. Ou seja trabalharia com a descrição das interações entre as espécies e de como estas espécies utilizariam o ambiente para conseguir seus propósitos.
    Contudo, nem sempre é isso que o ecólogo está procurando desvendar. Principalmente quando se trata de abordagens experimentais, seria mais apropriada a seguinte definição:
    "Ecologia  é a ciência que estuda os fatores que determinam a distribuição e abundância das espécies".
    Assim, o ecólogo teria como objeto de estudo os fatores que influenciam em escala espacial (geográfica) e temporal a biologia das espécies. Estes fatores podem ser do ambiente físico/químico, que interfere no funcionamento do metabolismo dos indivíduos, ou do ambiente biótico, onde encontramos as interações entre espécies (competição, parasitismo, predação, mutualismo etc) e entre indivíduos de uma mesma espécie (competição, canibalismo, sociabilidade etc). 
    A ação conjunta destes fatores ecológicos e de uma boa dose de acaso mediaria os processos evolutivos pelo qual todas as espécies passam desde seu surgimento.

Ecologia versus ambientalismo
 
    Existe diferença entre ecologia e ambientalismo? Para muita gente ecologia e ambientalismo podem ser consideradas como sinônimo. Contudo não são. 
    A ciência da ecologia surgiu a mais de um século a partir da necessidade de fitogeógrafos de ampliarem seus conhecimentos sobre os fatores determinantes da distribuição das plantas. 
    Nesta época (1869), um biólogo alemão chamado Ernest H. Haeckel,  que era um entusiasmado defensor e propagador das idéias de Charles Darwin, teve a percepção de notar que seria necessária uma nova ciência para abranger a amplitude do estudo das relações dos seres vivos e o ambiente que os circundava. Assim, Haeckel cunhou o termo Ecologia, que deriva do  grego (Oikos: casa, logos: saber, estudo). 
    Entretanto, o  termo ecologia somente começou a ser mais utilizado em 1895, quando o fitogeógrafo Warming utilizou-o no título de seu livro “Plantesamfunn grundträk den ökologiske plantegeograf”, obra que em sua tradução para o para o inglês teve como título "Oecology of plants", ou seja, Ecologia das plantas.
    Por outro lado, o movimento ambientalista têm origens históricas e objetivos bastante distintos. Ele começou a tomar vulto à partir da década de 50 e 60, nos países de primeiro mundo, e década de 80 e 90 em países mais pobres, como o nosso. Suas principais bandeiras são as ações de proteção à natureza, e aí residem as grandes diferenças e também os pontos principais de contato entre a ecologia e o ambientalismo."²
......
2- Para o pesquisador Lipietz, ecologia  é "a ciência que estuda a relação triangular entre indivíduos de uma espécie, a atividade organizada desta espécie e o meio-ambiente, que é ao mesmo tempo condição e produto da atividade, portanto condição de vida daquela espécie. O ecologista que se interessa por castores se dedicará a analisar a relação deles ao meio em que vivem : a floresta e os rios, mas também as barragens que constroem, ou seja, a natureza transformada por sua atividade. O ecologista se interessará ainda pela capacidade do sistema a assegurar as necessidades da população de castores e sobre o modo como esta população se multiplica, se organiza,etc
Aplicada aos homens, a ecologia torna-se o estudo da relação da humanidade com o meio-ambiente, i.e., a maneira como se transformam mutuamente e como o meio-ambiente permite que a humanidade viva. Da mesma forma que o meio-ambiente dos castores não se limita a florestas e a rios, o meio-ambiente dos homens não é apenas natureza selvagem, incluindo também a natureza transformada por eles. A ecologia humana é portanto a interação complexa entre meio-ambiente (o meio em que vive a humanidade) e o funcionamento econômico, social e, acrescentemos, político das comunidades humanas."

Referindo-se ao desenvolvimento sustentável, ele diz:

"Segundo a definição adotada pela ONU, desenvolvimento sustentável é o que permite satisfazer as necessidades das gerações atuais, começando pelos mais carentes, sem comprometer as possibilidades de que gerações futuras também possam satisfazer suas necessidades.
O que implica a ideia de desenvolvimento sustentável ? A ideia encerra duas dimensões. Atualmente, supõe que este modo de desenvolvimento responda às necessidades de todos. E, a longo prazo, supõe que este modelo possa durar. O desenvolvimento sustentável inclui também a ideia de redistribuição (ou de justiça social), uma vez que propõe uma ordem para a satisfação das necessidades : começar pelos mais carentes.
Mas, como fazer? Como reorientar nosso desenvolvimento para que se torne sustentável ? Primeiro imperativo: economizar o fator Terra, dando prioridade a tecnologias que economizam energia e, mais amplamente, que respeitem o meio-ambiente. Segundo imperativo : implementar novas regulamentações, acrescentando à proteção social a proteção do meio-ambiente. Para tanto, os meios existem. Estendem-se de medidas regulamentares (leis e normas), a meios econômicos (eco-impostos, autorizações negociadas) passando por acordos de autolimitação e códigos de boa conduta. Cada um desses instrumentos obedece a uma lógica diferente. Alguns permitem que se reparem degradações; outros, que se indenizem danos causados por terceiros ; outros, ainda, que se previnam efeitos nocivos pela dissuasão. Sem dúvida, a via do imposto dissuasivo é a mais promissora. Duplamente promissora porque, ao lado de seu efeito protetor do meio-ambiente, também oferece à coletividade recursos novos podendo ser alocados a outras políticas. Por exemplo, baixar o custo do trabalho no quadro de políticas de crescimento do emprego. Com isso, chegamos ao efeito redistributivo do modelo de desenvolvimento sustentável. Os mais carentes não tem meios de poluir e, frequentemente, são também os mais atingidos por poluições. Serão portanto os maiores beneficiários de uma reorientação geral para o desenvolvimento sustentável.. A curto prazo, podem ser penalizadas as classes auferindo renda pouco significativa. Para estas classes, restrições ao uso livre e gratuito do meio-ambiente poderão turvar a miragem de uma generalização do modelo da sociedade de consumo, do qual não percebem o caráter insustentável e perigoso para sua própria saúde. Às novas políticas ecológicas é portanto necessário acoplar reformas sociais, senão aquelas políticas não parecerão legítimas.
A longo prazo, e do ponto de vista do interesse geral, são evidentes as vantagens do desenvolvimento sustentável. Infelizmente, no entanto, é muito raro que se imponha o interesse da humanidade, a fórmula "depois de mim, o dilúvio" sendo muito mais adotada. Como fazer para que forças sociais e políticas se interessem pelo desenvolvimento sustentável? Certamente através de um intenso debate ideológico e cultural, visando modificar a percepção da escala dos riscos e das vantagens do desenvolvimento sustentável, fazer progredir os valores e normas da ecologia. Para além da política e de seus conteúdos, é a instância política, seu campo e seus métodos, que deve ser reconstruída."³ (Veja o artigo completo abaixo, em "Mais informações").
...
3- Um exemplo a ser seguido:
...
..."Os professores do C.E. Julião Nogueira disseram: "este ano nós vamos deixar a nossa querida Floresta Amazônica, pulmão do mundo, para os amazonenses cuidarem. Vamos ver o que conseguimos fazer pelo ecossistema do Imbé, porque este podemos ver, tocar, limpar e brigar por ele. O lindo pantanal mato-grossense, deixaremos por conta dos guaicurus, porque os nossos mangues da região, berço de reprodução de tantas espécies de animais aquáticos, estão pedindo socorro. Vamos esquecer um pouco da poluição do ar das capitais de São Paulo e do Rio de Janeiro e vamos tentar descobrir qual o impacto ambiental e a poluição que o Complexo Portuário do Açu pode causar em curto, médio e longo prazo. Como podem perceber o nosso foco é o meio ambiente mais próximo dos alunos porque acreditamos que para preservar eles precisam antes amar, sentirem-se integrados, incluídos, percebendo-se como mais um ser deste ecossistema com tanta diversidade de vidas. Precisam se envolver e sentir a dor de cada perda, quando uma árvore é cortada, quando um peixe morre, quando algum ser vivo desaparece ou fica ameaçado de extinção. Enfim, o que queremos é provocar, durante todo o ano de 2009, uma reflexão ecológica sistemática e sistematizada com ênfase na relação de pertencimento entre o homem e o meio ambiente."
Autoria do texto: Irecy Damasceno
Professora Correspondente
Conexão Professor e Aluno
Alunos do 5º ano, professora Cláudia Márcia Carvalho - C.E. Julião Nogueira"4

-------------

¹Veja em Alain Lipietz