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terça-feira, novembro 25, 2008

Via Vida: Passeio na Chuva

Passeio na Chuva






Sábado. Uma pequena cidade.

Choveu muito durante toda a noite, a chuva parando só lá pela metade da manhã. Apesar da chuva no ar, o tempo estava ótimo, um leve frio nos refrescava. Na verdade era mais um frescor da chuva do que frio. Dava até para ficar sem agasalho.

Com aquele tempo bom, sem o calor que sempre fazia por lá, fiquei com uma vontade grande de andar pela cidade. Chamei meus companheiros de viagem - familiares e amigos - mas todos estavam ocupados. Queriam aproveitar o passeio jogando cartas ou jogando conversa fora. Disse que ia dar uma volta. "Leve uma sombrinha", alguém me falou, "pode voltar a chover". "É, você pensa que não está mais chovendo? Está chuviscando, bem fininho", retrucou outro. Não desanimei. Peguei uma sombrinha, dessas que se dobra - made in china? - e saí...

----------------------------------Meu Passeio

Como a cidade está calma, pensei. Que paz! Fui andando e ouvi alguns pássaros protestando, ao perceberem minha presença, voando e trocando de galhos. Olhei para eles, discretamente, para não assustá-los ainda mais. Deve ter algum ninho com filhotes, refleti.

Continuei meu passeio. Mais uns cem metros e um gatinho malhado de banco e preto passa correndo, atravessa meu caminho e desaparece entre o mato de um lote vazio.

Ouvi alguém cantando baixinho, acompanhado por seu violão. Ensaiando? - perguntei a mim mesma.

Mais um gatinho, dessa vez todo preto. Atrás dele corria um branco de manchas cinzentas. Eram filhotes brincando. Pulavam um sobre o outro, dando mordidinhas. Mordidas de carinho, como tapinhas que irmãos se dão em brincadeiras...

Continuei. Notei que uma leve garoa caía. Quase imperceptível.

As casas simples mas bem cuidadas tinham jardins com flores, dessas florzinhas fáceis de pegar, como a vinca, também chamada de maria-sem-vergonha. Pobre flor-mulher, pobres Marias. Não podem aparecer que logo são 'recolocadas' em situações subalternas quando não constrangedoras. Sempre, mas sempre mesmo, quando vejo essa flor, eu me recordo de uma outra pequena cidade
onde passei parte de minha infância. Por todos os lugares onde se ia havia alguma maria-sem-vergonha. Sempre colorida e linda.

Continuando meu passeio cheio de recordações, uma casa mais na frente me chamou a atenção. Era um sobrado, pomposo e moderno. Ouvi vozes vindas de lá. Quando passava bem em sua frente, percebi que um casal discutia. A voz feminina parecia tímida, quase choramingando. A masculina era alta, mas dava para perceber que a pessoa devia estar embriagada ou de ressaca das baladas da sexta-feira. Andei mais rápido por alguns segundos. Queria continuar em meu mundinho de paz que o passeio criara...

Mais um gatinho. Depois da praça avistei algumas pessoas que tiveram a mesma ideia e coragem que tive: caminhar, sem medo de se molhar.

Agora foi a vez de um pequeno, quase minúsculo cachorrinho. Correu em minha direção, como para me fazer medo. Vendo que eu não reagia, se afastou, entrando no jardim de onde havia saído.

De uma casa humilde, a mais simples que vi nesse meu passeio, ouvi vozes. Cantavam, riam, pareciam bem alegres, contentes.

Foi inevitável esse pensamento: De uma casa, aparentemente habitada por pessoas bem sucedidas, financeiramente falando, vem brigas, discussões, infelicidade. De uma outra, que mostra ser de pessoas simples, sem muitos bens materiais, saem cantos, risos, alegria... Realmente, a felicidade está dentro de cada pessoa. Não mora em casas, sejam elas modestas ou suntuosas. Mora dentro de quem as habita, fazendo de cada casa um palácio ou um casebre, independente de ser rica ou pobre.

Sim, é aí que mora a felicidade, aí, bem dentro de cada um de nós. Aí, bem dentro de você. Simples assim... É só saber encontrá-la. Problemas? Todos nós temos. Seja de ordem financeira, de saúde, com filhos... Não podemos correr deles, mas podemos deixá-los de lado, por alguns momentos, vivenciando pedacinhos de nosso dia a dia com força, coragem e alegria. Seguindo e vivendo a vida, sem deixá-la passar adiante de nós. Podemos vez ou outra sair na chuva e caminhar, deixando o tempo bom penetrar em nossa alma e nos fazendo mais felizes. Podemos nos alegrar com o canto de um pássaro, com a alegre brincadeira de um animalzinho ou com a beleza de uma flor. Podemos, sim, ter momentos de felicidade, mesmo nadando em problemas.

Apressei meus passos. Já dava para sentir o chuvisco fininho da chuva que voltava.



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Escrevi "Passeio na Chuva" sábado passado, depois de 'meu passeio na chuva'. Realidade e ficção. Crônica? Ou um miniconto? 

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